Sem Rumo

Minhas palavras escorrem como nanquim borrado em água,

figuras distorcidas num papel em branco molhado pela chuva,

são verborragias de uma racionalidade sem convicção,

tentam dar um curso preciso em uma vida sem rumo,

buscam descrever alguma lógica em meio à insanidade,

mas ao final continuo tão passionalmente idiota como no início,

sem conseguir represar a profundidade de minhas angústias,

sem obter sucesso em sufocar minhas torturas interiores,

fugindo de mim mesmo para cair num abismo de ventanias recorrentes,

girando na mesma rotação de uma centrifugação de idéias desconexas,

fazendo da intensidade um foço de dragões malditos à me acompanhar,

numa jornada por territórios alquebrados por guerrilhas inacabáveis,

sem empunhar a bandeira branca da paz, apenas anseio pisar numa mina armada,

para estilhaçar minha conciência em milhões de pedaços impossíveis de reunir,

me lançar de um precipício para sentir a velocidade do vento em meu rosto,

esvaziar pensamentos num copo de vidro emborcado sobre uma mesa de bar,

sem fé, lei ou rei a seguir para acreditar num ceticismo infiel a mim mesmo,

enclausurado numa garrafa de marinheiro dentro de um veleiro sem mar,

por onde andarei sem me perder ainda mais dentro desse labirinto de cegueira?

como abandonarei minhas dores antigas para me agarrar a insebilidades novas?

Não há lâmpadas nos bocais, nem pilhas nas lanternas, só uma escada íngrime,

não quero me segurar em corrimãos, não quero proteção para uma vida morta,

só quero o coma dos felizes desligados de si mesmos e do mundo ao redor...