Encerrarás a cortina da minha dor
O que fiz do meu viver
Não consigo crer
Fiquei um primeiro ano
Decepcionada, triste, destituída
Mas com fé, pensava contruir um lar
Sabia que minha alma chorava
Que não basta fé para se construir uma família
Que não eras, nunca fostes nem serás
O meu companheiro da vida
Fiquei sempre só e tu fugias
E transferi meu bem querer
Para meus filhos, amigos, irmãos
Até teus parentes, ingratos
Tua gente diferente
Vazia, sem amor , sem alegria
Uns alienígenas entre nós
Presunçosos que se acham imortais
E fui me fazendo de metades
Metade alegria , metade amor
Metade alma vazia
Que não se entregava
E quando o fazia, se sentia violentada
Mas fiquei,ficastes
Montamos o circo
Tu eras o proprietário
Eu fui a malabarista
Tu eras o senhor, eu a artista
Não ganhastes nada
Artista sem alma
Show sem platéia
Fiquei , lutei , trabalhei
Ficastes, tentastes, te acomodastes
Tens uma fuga que te tira da realidade
Eu vivo ao vivo e à cores
Um lar sem alma
E hoje olhando para ti,
Tens um monte de matéria ,
Lixos acumulados, equipamentos velhos
Guardastes tudo até parafusos
Se já eras diferente, tinhas problemas
Hoje és alma penada
Quero ir, já paguei todas as penas
Minha covardia custou caro
Uma vida inteira
Tentanto construir um lar
As crianças cresceram
Tentei aparar as arestas
Da tua presença funesta
Eles são bons, feitos de amor
Os protegi com minha presença
Minhas ações,minha família
Meus pais, meus guardiões
Eu queria sair, tentei várias vezes
E via teu ser errante, sem eira, nem beira
Só, infinitamente só ..
E ias entrando, retomando teu lugar
Cansei de lutar
Fui levando,fazendo mil apresentações diárias
E hoje é tarde, não sairás
Não tens nada, nem ninguém
Nossos filhos irão sofrer
E pareces Anjo do mal..
Te aproveitas de tudo
Certamente chorarás
No meu dia final.
Encerrarás a cortina
E como bom Bandoneon
Arrancarás com tua mentira
Lágrimas de dor
Da minha platéia !