face tua
Mostra-me tua face
O teu olho nu
a ver as cruezas do mundo
A tua lágrima de cristal
a paralisar a dor e o instante
Mostra-me tua face
Teu nariz em riste
Sua soberania vertical
Hasteada em tua cervical
Mostra-me o teu riso
Irônico,
burlesco
Entremeado de sarcasmo
e lirismo
Lirismo incontido
Absurdamente retilíneo,
pérfuro-contudente
A secar as mangas arregaçadas da camisa
A secar esforços pungentes.
Mostra-me tua face
Estática no instante presente
Cristalizada nos flashes da retina expectante
Promessa reticente do futuro.
A fotografia desbotará,
as cartas extraviarão do destino
O filme será carcomido
pelas trapaças do tempo
Mas essa tua face
impressa na tabula rasa,
o volume de seu rosto imerso no infinito,
a profundidade de teus gestos
de teus sentimentos
constróem a
argamassa de tua personalidade
fixada com a eternidade no
arquivo geral da esperança.
Vi um rosto humano
E por um reles segundo
Um único segundo,
Não me senti mais só,
só no deserto secreto
das desilusões.
e das faces vestidas de
mil máscaras.