gota
gotejam de seus olhos o mar
sereno e triste
perante as tragédias humanas
gotejam de seus olhos o mar
revolto e rejeitado
que chocam com as pedras e
lixam a areia
com sal e ressentimento
gotejam as cachoeiras lágrimas divinas,
dramas secretos,
embolias,
sangrias desatadas
dos nós dos desatinos...
gotejam sangue das mãos dos algozes
que sem culpa prosseguem
em sua trilha de mortes e medos
gotejam os lampejos de alma
a refletir na retina
o negror do entardecer,
a face oculta da lua
o pulo no abismo das paixões
gotejam as chuvas ácidas e cáusticas
sobre os castelos oníricos
construídos rodeados
de fossos e de feudos
gota a gota se constrói
o orvalho dessa manhã,
das flores que não plantei,
dos prantos que não me permiti,
dos devaneios
que não cometi.
a gota secreta do veneno
a última gota que derramei sobre a vida
inimiga.
gotejam as manhãs a procura de alguma felicidade.
haverá?
será gota um holograma?
será tudo sólido enquanto líquido?
ou será
tudo líquido enquanto sólido?
serão gotas inexplicáveis do tempo.