ESTAÇÕES (Folha Seca)

O vento sopra feroz sobre as árvores

Folhas secas espargem-se pelo chão.

Tal qual uma folha seca,

Sinto-me perdido na multidão.

Prenúncio do outono chegando

Sou folha-humana divagando

Por entre seres que não se tocam,

Nem sequer se olham.

Folhas secas passageiras

Folhas secas costumeiras

Folhas secas sorrateiras

Folhas secas a vida inteira

O inverno traz as chuvas

Que insistem em tudo molhar.

Milhares de pingos espalham-se

Rios a caminho do Mar

Feito um pingo d´agua

Que se espraia pelo chão,

Sem saber onde deságua,

Sigo só, em meio à multidão.

Vão-se as chuvas...

Floresce a primavera.

Aromas de romãs

Nas brisas das manhãs

A Natureza revela seus mistérios

Surgem mágicos botões

Flores multicores nos grotões,

Nos campos, cidades e cemitérios.

Flores dóceis e silvestres

Frágeis e agrestes

Suave perfume invade os ares,

Lares, lugares e pomares.

A mesma multidão segue, sem razão.

Passos indecisos, olhares medrosos.

Todos se fundem, confundem.

Vou de roldão para a próxima estação.

O verão chega trazendo suas cores.

Sol, mar, praias e bronzes.

Verde-azul, peles e pigmentos.

Guarda-sóis e pessoas a sós.

Tudo recomeça num novo outono.

Feito folha seca, solitária,

Continuo ao sabor dos ventos,

Relegada ao abandono.

(Vadô Cabrera)