pira
Aqui nessa pira
Jaz as cinzas dos que foram ao inferno
E de lá não escaparam
Aqui nessa pira escura e cinzenta
O vento sopra os ossos em pó
E conta dos outonos que se foram
Aqui restam apenas lembranças
Palavras cravadas nos devaneios,
Nos diálogos corrompidos
Por stress ou sedução
Aqui nesse momento
Onde deposito a esperança de eternidade
E infinitude
Tudo virou pó.
Do pó vieste , ao pó retornarás
Num paradoxo apocalíptico
Cíclico e fatal.
Dedos e riste,
Mãos gesticulando,
Corpos se amando,
Saliva de quem tem sede
São registros exitintos
Deletados no criptar do fogo
Deletados no esmaecer das brasas
Cuja maior herança
É a escuridão e silêncio
Aqui nessa pira
Não está meu amigo,
Não está o ser humano que amei
Não está aquele rosto inesquecível
Estão os restos
Os fiapos de uma grande
Trama
Finalizada pelo destino
O grande brocado da pele
Velha, enrugada
Expressiva e cansada
Está riscada na fisionomia
Da dor e do sentimento.
Aqui jaz apenas o tocável
O imponderável,
O improvável não há...
Há apenas saudades
Que jamais se extinguirão
Só quando outra pira visitar pela última vez
meus restos mortais.