A Luz do Espaço

O eco me lisonjeia.

O farfalhar do vento nas árvores,

Tudo é pura ilusão.

Nada me resta nesse mundo,

Sobrou apenas meu coração.

Duro, de pedra.

Nem estaca o quebra.

A percepção que tenho agora,

É o contrário de outrora.

A solidão nos altera.

Um brilho no espaço

Indica alguma presença.

As estrelas, infinitas,

Me dão nova crença,

De que algo, distante,

Me acompanha calado,

Numa mão uma foice,

Na outra, um cajado.

A Aparição surgiu em frente,

Pronto para acabar com minha sina.

Não mais sozinho;

Agora tinha companhia.

Mesmo que estranha,

Aquela silhueta branca,

Sua mensagem era vibrante:

Tão reconfortante...

Senti-me em casa novamente,

Apesar da distância assombrosa.

Sorri automaticamente,

Saudei a nova aurora.

Corri contra o vento,

Percorri longos prados.

Vales profundos cortei,

Montanhas altas escalei.

Quando finalmente minha jornada

Acabou no fim da estrada,

Senti o coração se desmanchar:

Não mais de pedra,

Senti-o palpitar.

Mas então percebi à volta:

Nada mais existia pra mim.

Aquele mundo não era mais meu,

Tudo se fora em meio a um breu.

Deixei meu companheiro alado,

Tomei-lhe o cajado.

Vaguei sozinho por longos anos,

Sem companhia senti-me morto.

Mas nada pude fazer:

Essa era a minha sina,

Desde antes de Faoen chegar,

Essa era a minha sina,

Tudo que fiz e que pude fazer

Foi lamentar.

O cajado me serviu eterno,

Senti-me livre ao seu lado,

Mas meu fim não estava perto,

E vi seu corpo ser quebrado.

Só me restavam lembranças,

Fios negros que ligavam à vida

Nem sombra do que vivi uma vez

Pôde reviver minha paz interior,

E todo o meu sentido se desfez.

Eu não tinha propósito;

Não tinha amor...

O tempo se esvaiu,

A vida não me tinha mais sentido.

Deitei-me sobre as águas,

Ri alegre, sozinho.

Fechei os olhos e chorei minhas mágoas.

Uma estranha sensação se apoderou de mim.

Meu corpo estremecia, eu me sentia desconexo.

Era como estar voando, calmo,

Flutuando muito alto.

Aos poucos fui perdendo os movimentos,

E então só me restava pensar.

Sonhei por anos a fio, emaranhado em pensamentos,

Até que num momento,

Calmo e lento pude descansar.

E então, embriagado pelo cansaço,

Dor e solidão,

Meu coração, de pedra e amargura,

Fragmentou-se em destruição.

E Faoen estava lá,

E, deitado ao meu lado,

Estava o branco cajado.

Restaurado e brilhante,

Mostrava a luz que refulgia no espaço