DESCONSOLO
Hoje não sei para onde vou, de onde venho.
Se procuro, não encontro;
desaponto...
não sinto, não o tenho.
Minha vida foi um acaso,
não me escondo,
sou livre; se existe sol, não lamento,
sorrio, canto e respondo
com reflexos coloridos.
Sou fiel as coisas únicas,
o nascer, o crescer e a vida amada.
Sou alheio às guerras, as façanhas heróicas.
Sou triste, busco a paz na madrugada,
o consolo no perfil amado,
e o desejo de ver consumado
meu ser só.
Sou andrajo à sua volta,
passo a passo, retoco as passarelas que nos ligam.
Suspiro ao vê-la radiante e crédula deste amor;
fazendo da flor, dos poemas, apenas pedaços, trechos.
Ah, sou feliz e livre,
basta poder viver e sentir a presença da morte, do fim.
Sou feito de amnésia, de lacunas vagas;
nada guardei do ontem,
de hoje... tenho você; me tens.
Se alguém me feriu, me magoou,
ficou além da mente, não sei.
Hoje, vivo agora cada minuto de liberdade,
sem saber de onde venho,
nem tampouco para onde vou.