TRANSE
Antes a vida se mostrava
clara como cascata,
em meu peito a serenata
abria-se festiva.
Eram sons longínquos,
feitos de tantos feitos,
criados para unir e serem multiplicados.
Ah! Se eu soubesse me repartir,
seriam partes transitórias
que vagariam em seres,
precipitando em suas almas
e confundindo-se em seus corpos.
Mas nada foi feito, nem realizado.
Hoje vagueio desastrado,
buscando feitos em defeitos
e almejando realizações em meu corpo.
Desafio o nada,
buscando o tudo;
sorrindo à lágrima
e soluçando ao sorriso,
sou confuso;
reconheço em cada traço,
em cada palavra, em cada momento.
Mas ainda assim, o quanto lamento,
o quanto sinto,
por não ter sido a alma transitória de tantos seres.
Sou infeliz hoje;
de ontem, trago a lembrança da vida clara,
onde você deveria ter existido,
na existência da alma transitória que vagueou
e se despiu ao som da cascata
de lágrimas e se despediu.
Se foi... se foi e passou hoje,
a espera talvez, do amanhã...
“que há de vir”.
Expiro... minha vida já cansada
e mais confusa.