Solidão e estática.
Olhos pesados, sem tempo para observar ao redor,
Coração solitário, passos apressados indiferentes,
Vida cansada, lágrimas ausentes sem qualquer emoção,
Andando em círculos, como em contos escritos sem um fim,
Apatia em cada gesto, como em câmera lenta sem controle remoto,
Ninguém saberia explicar motivos sem aparentes respostas,
Apenas segue-se o curso do rio sem saber ao certo seu destino...
Há muito tempo atrás havia um ânimo que motivava o despertar,
O sol na janela fazia emergir sorrisos involuntários aquecidos,
Havia uma companhia a quem abraçar na garoa de cada manhã,
O cheiro de café fresco e bolo traziam recordações bem familiares,
O latido do cão no quintal evocava memórias de um domingo no parque,
Tudo parecia estar exatamente em seu lugar, como num jogo de encaixes,
A música de aconchego no rádio era o “bom dia” de uma nova jornada aceita...
Agora, somente ficaram os copos quebrados na velha pia da cozinha,
O piso coberto de poeira e folhas secas num lugar há muito esquecido,
Os vidros embaçados pelo tempo de vazio e abandono daquela vida,
Sonhos e planos que se esvaíram em algum momento imperceptível,
Vontades que deixaram de fazer algum sentido na velocidade da auto-estrada,
Ninguém voltará ao começo; somente o fim sucede o inevitável desencontro,
Tudo que se perdeu escoou rapidamente pela fresta de um abismo infinito,
Numa noite de chuva intermitente e frio que congelaram os sentimentos...
Não há música no rádio do carro, somente a estática de um espaço sem som,
Não existem estrelas para iluminar a escuridão que habita espíritos deprimidos,
Não existem placas que sinalizem uma mudança dessa realidade atormentada,
Somente o vento que sopra como o uivo de um lobo agourento em uma colina,
Presságio de uma morte anunciada em uma vida lacunar não mais desejada,
Funesto feriado para quem não comemora mais nem mesmo um aniversário,
Ninguém imaginou o quanto seria difícil esperar o que não virá nunca mais...
Não há desculpas para erros imperdoáveis, nem acalento para dores persistentes,
A lápide jaz no concreto de um cemitério de raízes cortadas e fantasmas noturnos,
Amargo o sabor diário no calendário de um tempo imóvel e eternizado,
Na lenta erosão da rocha que cimentou qualquer possibilidade de felicidade,
Sem saídas da caverna que aprisionou condutas que deveriam ter sido diferenciadas,
Numa desarmonia de cadências que se tornaram cadeias invisíveis de sensações,
Impedindo uma volta ao começo, um retorno a casa, um abraço de reencontro...