Dias de folga (um sonho sozinho)
Caminhando pelo sol...
Na beira de uma praia onde nunca estive
O calor fraco do fim de tarde vem me dizer para parar de sonhar
Pois a realidade já está bem aí
Mas a realidade, ao cair da noite estrelada, mostra-se uma mentira
A realidade é apenas um sonho bem argumentado
Para nos fazer acreditar
A vida é feita de ilusionistas e aproveitadores
E nós nos doamos
E seguimos como se tudo estivesse tudo bem
É uma pena...aqui nessa praia onde sempre sonhei estar
Vejo meu nascer do sol na névoa
E eu, pálido, caminhando doente pela areia
Essa é a realidade
Nesse sonho eu enxergo o que os outros não vêem
Enxergo o que escondi por tanto tempo
A dificuldade de manter tantas vidas felizes
As vezes me sinto bom demais para o mundo em que vivo
Mas quando penso que tudo é mesmo uma mentira
Passo a não me importar com mais nada
E enxergar tudo como banal e desnecessário
Vejo-me caminhando triste
A beira da morte cerebral e espiritual
Alguém apagando aos poucos
Na luz da manhã entrego-me a imensidão do mar
O mundo construído por todos
Sinto saudades do mundo de sonhos e do mundo que vivi por anos
Sinto saudades dos que me amaram de verdade
Não os vejo mais, encontraram uma estrada eterna e não me quiseram levar
Sinto saudades dos lugares que já fui e quis ir, sinto saudades de ser eu mesmo
Vejo-me então na areia fria
Uma criança agachada e cabisbaixa
Alguém arrependido de não ter vivido
Uma criança de tantos anos de idade
Eu olho para o passado com uma compaixão tão pura
Largaria tudo o que não tenho para estar na mesma praia
Onde um dia estive nos sonhos
Numa época em que a vida se resumia a dias de sol
E noites de chuva, acompanhado, aquecido, protegido.
Perdemos tanto na vida tentando ser bons
Tentamos tanto construir um mundo novo
Que quando paro para pensar, percebo que o velho não era tão ruim assim.
Às vezes mudar é necessário, senão seriamos todos felizes
E foi esse caminho que escolhi
Estou sozinho e vou andando pela praia que vai sumindo na imensidão
Uma brancura vazia da imensidão dos meus olhos que não enxergam mais
A imensidão dos sonhos que joguei fora pelos outros
E as horas que passei tentando ser feliz para descobrir que isso não era para mim
Distancio-me desse sonho e vou me vendo ir embora
Estou em estado terminal e agora tudo acaba
Nessa cama, nessa praia, nessa saudade de poder tudo
Na vontade de poder viver novamente
O que quer que ainda tenha por vir... Estou sozinho.