Sons silenciosos

A nênia, que se fez ouvir tardia
em algures silenciosos e desertos,
soou em minha vaga lembrança,
em meus momentos incertos,
como um clarim de liberdade.
E na placidez do lago azulado,
vi refletida a harpa, que sonorizava
a canção tão triste.
E eu me senti liberto
nos reflexos emitidos do lago.
Almejei um leve afago
daquelas mãos, que levemente
pareciam acariciar os cabelos da harpa.
Ah, se eu emitisse sons perdulários,
talvez o lago ficasse bravio,
e o breve silêncio do estio,
fosse transformado em procela.
Mas, eu me calei ao som, vindo dela.
Postei minha cabeça na relva,
e senti que não era esta
inda a hora da saudade.
Afinal, veio o cântico da floresta;
o irapuru falava de amor.
Então senti a dor que no peito trago;
sou o amante perdido de uma flor,
buscando, procuro vê-la
entre os reflexos emitidos pelo lago.