Insônia
 

A noite cai como que corpo abatido.
As horas desfalecem, mas não morrem,
e os nervos desfiam-se como novelo de lã.
Enche-se de presságios, de sombras da alma.
 
Gélido suor invade o semblante lívido.
O coração descompassa em taquicardias.
Longe de ser serena, a calma é artificial.
Um caos total escondido sob o tapete.
 
Em meio à amplitude, totalmente acuado.
Um punhal que ameaça o pescoço.
Um sorriso sem graça que nada quer.
E tudo por um débil delírio, uma ilusão.
 
Anseios perdidos em sonhos desfeitos.
E toda perda quer fingir ser enorme ganho.
E a covardia se oculta em falsa valentia.
E a mediocridade faz-se de genial tolice.
 
E o sono passa despercebido.
Visita os olhos, mas não descansa o cérebro.
Bombardeia com escombros do cotidiano.
Como assaltante noturno rouba a alma.
 
Os músculos não relaxam,
o coração não se desafoga.
A garganta não se alivia,
a alma não vive.
 
Insólito, o medo é o visitante,
alma penada a assombrar,
desafiando a loucura pela lucidez,
fazendo-se surdo o que não quer ouvir.
 
Enchendo-se de pesado silêncio,
fingindo ser possível a ilusão de felicidade.
Não querendo perder tempo em ser triste,
fechando os olhos e finalmente dormindo.
 
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 14/04/2009
Reeditado em 13/10/2019
Código do texto: T1539546
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