RÉSTIAS DA TARDE
o que é feito das inspirações
lavadas lástimas de um poetar
em tardes cinzas esmaecidas...
flores murchas em vasos secos
poeiras nos vãos das prateleiras
sol refletindo fraco no verniz
nem mesmo uma desilusão
para se cantar um amor
impossível enlouquecido...
tudo apascentado morno
rotineiro sonolento
nem crime que escandalize
nenhum deslize que envergonhe
vidas comportadas previsíveis
diferenças entre dias só no calendário
se tanta paz desejada for assim
a desejam quem quer morrer antes da hora
no silêncio dos sussurros em melífluas rezas
viver emoções só nos cinemas em vídeos
de outras vidas e estórias inverídicas
mas que quebram a monotonia do deserto
ressequido este solo onde me planto
feito cacto isolado em tempo árido
meus espinhos, defesas e solidão...