flor de cáctus
Minha flor de cáctus
Nascida entre os espinhos
Mediante a agrura do calor escaldente
Dos raios de sol farpados de luz.
Tanto inferno de cinzas e ressentimentos
Tanto banimento e sombra
Tanto medo e desconhecimento.
E tudo que esperavas era apenas água.
Tantas almas vivendo na réstia dos dias
Na solidão das palavras cruas
Nos segredos de portas e gavetas trancadas
Tanta dor e esperança escoadas
no ralo interno da vida...
perdidas no abismo insano e inexplicável.
Minha flor de cáctus
Bromélia debochada diante da chuva
E, no calvário do árido
Guarda em sigilo uma fonte hídrica,
Um socorro secreto na hora de redenção.
De onde vem sua força?
De onde vem sua onipotência ?
Mandacaru urbano e insólito
posado tosco nos trilhos do caminho
Visgado pelo tempo e remorso.
Sobreviver é preciso.
Lágrimas da chuva de ontem
Regaram a esperança de hoje
Minha flor de cáctus
Eu sou seu espinho mais próximo e
mais tímido...
Estúpido em querer lhe proteger...
Enquanto que é a sua beleza que
que me defende da iniquidade do mundo.
As farpas solares abandonam o dia
Anoitece e misteriosamente a flor de cáctus
Faz dormir toda uma primavera
nascida entre pedras.
Esculpida delicadamente
nas larvas quente das paixões.