INSÔNIA (Versos que me castigam) - Retrô
Posso ouvir os gritos do silêncio, o diálogo que se propaga no vazio;
Posso discernir a óbvia distinção entre o nada e o nenhum;
Porque sou agora errante passageiro dessa estrada onde me guio;
Para entender que todos os meus destinos findam em lugar algum!
Ouço a voz das minhas vozes a acato as surras da consciência;
Lá fora o calmo som do orvalho, que se estala qual pluma nas ruas;
Porque posso agora velejar sem medo, nos mares da sutil inocência;
Dando vestes de alento para todas as minhas almas, outrora nuas!
Desço as escadas altivas, feitas de humildes degraus;
Olho essa minha inflexão, que desenha suas curvas em reta;
Debato com todos os meus eus, a fim de meus bons venceram meus maus;
E abraço, por fim, meu farol apagado, que tanto me alerta!
Guardo na noite sem fim o troféu desses olhos que nunca descansam;
Revejo suas cenas sinceras: enredo tão sério de suas comédias;
E afirmo em meu desatino que eles almejam mas nunca alcançam;
E logo percebo sem medo: minhas novas vontades ainda são velhas!
Posso governar o tempo, ele quis adormecer em meu lugar;
Posso voltar ao futuro e avançar para o hoje de meu passado;
Tudo posso sob a clareza desse escuro, até meu sonho perdido achar;
Pois eu durmo aqui acordado, enquanto dormiu o que está despertado!
E assim me vou viajando, na nave que rasga o véu da madrugada;
As coisas que vejo e ouço, eu guardo em segredo pra não me contar;
Quisera render-me ao sossego, sem nunca ouvir ou mesmo ver nada;
Talvez mentindo ao meu dormir eu possa até fingir que consigo sonhar!!