A ALMA SENTE
Inconformado
sinto-me uma aldeia vazia.
Escrevo sem receios,
escrevo como quem beija
uma mulher bonita com paixão.
Sou semideus
dos meus parágrafos,
invento rectas de loucura
eclipsando os astros sem alcançar choros.
Não vivo
com o corpo
o que a alma sente,
mas sinto no corpo o que a alma não vive.
Escrevendo fácil
o tranquilo complicado
da presença romântica que identifica
infalivelmente a liberdade do meu pensamento.
Sou portador
da voz que arrepia a noite
com sátiras de nem uma coisa nem outra,
ouvinte do silêncio na tipologia das palavras
que ensinam a madrugada de solidão que escolhi.
Sou fantasma
desorientado em reflexões
que atenuam o banco onde sou réu ausente,
da violência remendada pelo verso e o reverso
de uma moeda clandestina no meu ponto de vista.
Ora sou noite
que derrama a tragédia de quem não ama,
ora sou dia onde marejam caprichos que me punem.