Vou
Eu vou falar da vida,
Da ida, da partida,
Do regresso, da saída,
Da porta a se fechar;
Eu vou celebrar o amor,
A dor do beija-flor,
O torpe dissabor,
De nada pra beijar;
Vou colocar aviso,
Anúncio de serviço,
Que cause rebuliço,
A quem se sujeitar;
Vou me lembrar do realejo,
Do gosto daquele beijo,
Do insólito desejo,
Inútil de tramar;
E vou estar satisfeito,
Se em meu mórbido leito,
Sem nenhum preconceito,
Alguém vier chorar.