DIAS VÃOS
Há dias de largo sono
De quase morte lenta
De um total abandono
Um vazio que violenta.
Mórbida vida, tão só!
Cercada por multidões
De mim, morrendo de dó,
E eu só, com meus botões.
Tardes hospitalizadas
Nas vãs CTIs do tempo
Noites se indo acordadas
Dias morrendo sedentos.
Alcovas vazias, fúteis,
Silenciadas de gemidos
Imensas horas inúteis
Desejos não concebidos.
Seios virtuais no teto
Passeiam intumescidos
Um olho abre discreto
E vê os corpos despidos.
Vagam noites, vão dias,
E a insônia se aldrava
Em tom de melancolia
O ponteiro nas seis crava.
Como é mortal o vazio
Se de nada é preenchido
Como é letal esse cio
Morrendo pela libido.
Desperdícios deploráveis
Por falta de companhias
Momentos tão agradáveis
Mortos todos os dias...
Essa ausência absurda
Que mata silêncios mudos
À noite faz-se de surda
De dia clama por tudo.