efêmera
E a pedra se tornou vento
E o vento desfez a trilha
Haverá caminhos entre memórias
registradas no fundo da alma ?
E a pedra em pó se desfez
E se espalhou no mundo em silêncio
no ritual dos desertos
no sopé das montanhas
nos lagos encharcados
E na miragem dos sedentos
E na gana dos famintos
E na lágrima dos indiferentes
Haverá vestígios de tudo aquilo
que existiu,
que sobreviveu ao tempo,
a estória
e, sobretudo as reticências cruéis
da linguagem criptografada de
seus confusos sentimentos
sua mão bêbada a tatear o provável.
algoritmos agonizam uma gnose qualquer,
fórmulas tramam a solução de uma equação
desequilibrada
entre as igualdades perecíveis
e imaginárias
meus dedos meticulosamente
todos diferentes,
minhas pernas
ambas diferentes e,
ainda, estão em par....
a andar pelo mundo
meus olhos
que olham
a mesma imagem
que se iludem
com a mesma miragem
e, sonham ao dormir
com aquilo que jamais verá
tanta diferença e os paradoxos
esculpem arestas microscópicas
a contornar,
a contar,
a escorrer pelo dia de chuva
chuva plena,
chuva de verão
intensa,
forte e efêmera.
E a pedra se tornou vento
E a montanha que há em mim
simplesmente se ergue.