Ainda espero!

Indeciso espero,

E na janela meu azul se apaga

Vai-se o sol que de luz a fendia

E a adaga da sombra rasga

Da saudosa visita que havia

As fibras da espera.

Iludido espero,

Na ausência matinal da voz

Antes larga e sincera!

Meu Eu se despe do Nós,

E com o eco que já não reverbera,

Silente, eis-nos a sós...

Ferido espero...

De letras azuis o libar,

Ou ainda um rabisco d’aceno

Talhado em casca a imitar

Da águia o vôo ameno

Prestes à vítima atacar

Ainda espero...

No cegar da hora ausente,

No calar do matinal gorjeio,

Nas letras do não recorrente,

Nas asas dum pombo-correio

Ferido e demente...

... e moribundo,

Ainda assim espero!