Chuva na vidraça
Noite suave, chuva mansinha, brisas amenas
Sugestiva, silenciosa, é uma noite tão calma
Um clima que seduz, um estímulo para sonhar
Sozinho, tal como estou agora, sem destino
Imagino sim, a ternura de um beijo de amor
Uma mulher carinhosa, sensual, audaciosa
Persiste o silêncio, um pingo de chuva interrompe-o
Desenha-se na vidraça um formoso perfil de mulher
Lembro-me de alguma, penso mesmo em telefonar
Dúvidas invadem a minha mente tão solitária
Assim vou vencendo essa amarga solidão
Ouço a Cássia Eller cantando “A Malandragem”
Ela canta: -“Sou poeta e não aprendi a amar”
Parece ser o que ocorreu comigo, por estar aqui
Neste vazio apartamento, triste, sem esperanças
Consumindo-me o tempo em inúteis pensamentos
Amigos há, uns três, talvez, sei que é pouco
Não há diálogos construtivos, apenas vagos
Penso, sonho, faço projetos, mas pouco evolui
Ouço casos, mentiras, façanhas, notícias
Parodiando Drummond, meu ilustre conterrâneo:
Sou triste, orgulhoso, de ferro, sigo sozinho
Neste cenário noturno eu me perco, nocauteado
Penso mesmo em correr, correr e correr, até o fim
Lá, bem distante, onde cada amigo é um irmão,
Onde os vaga-lumes enfeitam as noites de amor,
Como se falava numa bela canção dos anos 70
Onde se espera que as esperanças jamais morram