Chuva na vidraça

Noite suave, chuva mansinha, brisas amenas

Sugestiva, silenciosa, é uma noite tão calma

Um clima que seduz, um estímulo para sonhar

Sozinho, tal como estou agora, sem destino

Imagino sim, a ternura de um beijo de amor

Uma mulher carinhosa, sensual, audaciosa

Persiste o silêncio, um pingo de chuva interrompe-o

Desenha-se na vidraça um formoso perfil de mulher

Lembro-me de alguma, penso mesmo em telefonar

Dúvidas invadem a minha mente tão solitária

Assim vou vencendo essa amarga solidão

Ouço a Cássia Eller cantando “A Malandragem”

Ela canta: -“Sou poeta e não aprendi a amar”

Parece ser o que ocorreu comigo, por estar aqui

Neste vazio apartamento, triste, sem esperanças

Consumindo-me o tempo em inúteis pensamentos

Amigos há, uns três, talvez, sei que é pouco

Não há diálogos construtivos, apenas vagos

Penso, sonho, faço projetos, mas pouco evolui

Ouço casos, mentiras, façanhas, notícias

Parodiando Drummond, meu ilustre conterrâneo:

Sou triste, orgulhoso, de ferro, sigo sozinho

Neste cenário noturno eu me perco, nocauteado

Penso mesmo em correr, correr e correr, até o fim

Lá, bem distante, onde cada amigo é um irmão,

Onde os vaga-lumes enfeitam as noites de amor,

Como se falava numa bela canção dos anos 70

Onde se espera que as esperanças jamais morram

Harock
Enviado por Harock em 01/02/2009
Reeditado em 28/02/2013
Código do texto: T1415774
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