Sem-graça

Nasceu o bebê imune ao câncer,

Imune ao tempo

Suas células não envelheceram

o tempo para esse bebê não passará

Tudo que a vida lhe legou foi

uma pequena eternidade científica

Comprovada em laboratório

Testada em condições normais de temperatura e pressão

E, se não fosse isso.

O bebê perfeito, será uma criatura plena.

Absolutamente saudável

Conhecerá a morte somente quando quiser.

Não terá solidão, desilusão

e nem tristeza...

O que será desse bebê com super-poderes?

Será que ultrajará as babás...

O que será que irá decretar

o fim da humanidade inteira?

Nasceu o bebê imune ao desamor,

ao desafeto,

ao destino ingrato e cruel.

Às palavras ásperas,

aos gestos brutos.

Será eterno e sublime.

Crescerá firme e entenderá o infinito,

Percorrendo a linha do horizonte

com o olhar da manhã ao acordar.

E, a tarde.

entenderá o sol em seu poente.

A chuva, seus raios e lampejo dos trovões.

Reconquistará a primavera,

a docilidade afável do outono

E, se guardará do frio

Do frio eterno das geleiras

Do frio da indiferença.

Será imune.

Perfeito.

Inexorável.

Será humano?

Terá vestido a capa dos superpoderes.

Voará mais alto.

Atingirá o píncaro

em um só segundo,

E perderá a graça.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 27/01/2009
Código do texto: T1408111
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