Sem-graça
Nasceu o bebê imune ao câncer,
Imune ao tempo
Suas células não envelheceram
o tempo para esse bebê não passará
Tudo que a vida lhe legou foi
uma pequena eternidade científica
Comprovada em laboratório
Testada em condições normais de temperatura e pressão
E, se não fosse isso.
O bebê perfeito, será uma criatura plena.
Absolutamente saudável
Conhecerá a morte somente quando quiser.
Não terá solidão, desilusão
e nem tristeza...
O que será desse bebê com super-poderes?
Será que ultrajará as babás...
O que será que irá decretar
o fim da humanidade inteira?
Nasceu o bebê imune ao desamor,
ao desafeto,
ao destino ingrato e cruel.
Às palavras ásperas,
aos gestos brutos.
Será eterno e sublime.
Crescerá firme e entenderá o infinito,
Percorrendo a linha do horizonte
com o olhar da manhã ao acordar.
E, a tarde.
entenderá o sol em seu poente.
A chuva, seus raios e lampejo dos trovões.
Reconquistará a primavera,
a docilidade afável do outono
E, se guardará do frio
Do frio eterno das geleiras
Do frio da indiferença.
Será imune.
Perfeito.
Inexorável.
Será humano?
Terá vestido a capa dos superpoderes.
Voará mais alto.
Atingirá o píncaro
em um só segundo,
E perderá a graça.