EU SOU...
Essa fenda que serve de leito e de vale, donde escorre o perfume dos desenfreios
Esse mundo que odeia rodeios, essa célula formada pela informalidade
Essa masmorra essencial à liberdade, essa solidez fluidora de tonteios
Essa paz constituída de tiroteios, esse incolor que é mosaico de mil tonalidades!
Um gigantismo que se aceita em concha, um manto feliz por ser retalho
Um coringa ignorado pelo baralho, a descoberta mais incerta de um farol sem mar
Uma febre com a missão de congelar, o ar que tem predileção pelo assoalho
Um mudo chocalho, uma canção noturna cujo alvo é acordar!
Tudo que se acha talhado na face daquilo que jamais se encontra
Tudo que se consente por meio de afronta, a plena forma feliz de se sofrer
Tudo que a indiferença quis querer, o pleno esquecimento que remonta
Tudo que uma construção desmonta, todo indulto que anistia com o intuito de prender!
Aquele céu que achou por bem amanhecer com sol e lua em mesma cama
Aquele singelo drama que desposou pragmatismo e fez-se amante da inovação
Aquele trilho que desvia da estação, aquele campo minado por nirvana
Aquele mar sertanejo de praia metropolitana, a calmaria da inquietação!
Tudo que se pode ferir com a rica pobreza de uma espada
Tudo que a madrinha fada é incapaz de presentear
Tudo que não quer ladrar o cão perdido à beira da estrada
Tudo do meu nada – sou eu a me explicar!