EU SOU...

Essa fenda que serve de leito e de vale, donde escorre o perfume dos desenfreios

Esse mundo que odeia rodeios, essa célula formada pela informalidade

Essa masmorra essencial à liberdade, essa solidez fluidora de tonteios

Essa paz constituída de tiroteios, esse incolor que é mosaico de mil tonalidades!

Um gigantismo que se aceita em concha, um manto feliz por ser retalho

Um coringa ignorado pelo baralho, a descoberta mais incerta de um farol sem mar

Uma febre com a missão de congelar, o ar que tem predileção pelo assoalho

Um mudo chocalho, uma canção noturna cujo alvo é acordar!

Tudo que se acha talhado na face daquilo que jamais se encontra

Tudo que se consente por meio de afronta, a plena forma feliz de se sofrer

Tudo que a indiferença quis querer, o pleno esquecimento que remonta

Tudo que uma construção desmonta, todo indulto que anistia com o intuito de prender!

Aquele céu que achou por bem amanhecer com sol e lua em mesma cama

Aquele singelo drama que desposou pragmatismo e fez-se amante da inovação

Aquele trilho que desvia da estação, aquele campo minado por nirvana

Aquele mar sertanejo de praia metropolitana, a calmaria da inquietação!

Tudo que se pode ferir com a rica pobreza de uma espada

Tudo que a madrinha fada é incapaz de presentear

Tudo que não quer ladrar o cão perdido à beira da estrada

Tudo do meu nada – sou eu a me explicar!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 23/01/2009
Reeditado em 03/03/2012
Código do texto: T1400215
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