O ponto
O ponto isolado no nada
Só o ponto, sem linhas, sem pontos
O ponto que faz tudo e não é nada
O ponto isolado na folha
O erro no toque da caneta
É o ponto sozinho.
O ponto sem cor e sem nome
O ponto sem dono ou amor
O ponto é a vida sozinha
A alma mesquinha
A loucura e o torpor
O ponto é vazio por dentro
Embora cheio por fora
O ponto é um nada
Sem ninguém
O ponto só queria ser um rio sem margem
E poder se espalhar por longas planícies
E inundar outros pontos de sua tinta
O ponto queria ter leito,
O ponto queria ser leite,
Ser cheio por dentro
Bem feito para o ponto
Que queria demais
O ponto só queria que a ponta do lápis tocasse mais uma vez o ponto
O ponto só queria ser uma linha
Mesmo que finda, uma linha
Nos seus maiores devaneios alexandrinos, queria ser uma reta
E nos mais contidos sonhos, queria ser mesmo um ponto, mas rodeado de pontos
Mas ninguém quer ser o ponto solitário
Ninguém quer levar o mal do não-amor
O ponto é a dor
A pontada no peito
O ponto é só.
O ponto é o nó na metade do corpo
São as tripas rodando
As entranhas pungindo
São os olhos fechando.
O ponto é o ponto, e
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