O ponto

O ponto isolado no nada

Só o ponto, sem linhas, sem pontos

O ponto que faz tudo e não é nada

O ponto isolado na folha

O erro no toque da caneta

É o ponto sozinho.

O ponto sem cor e sem nome

O ponto sem dono ou amor

O ponto é a vida sozinha

A alma mesquinha

A loucura e o torpor

O ponto é vazio por dentro

Embora cheio por fora

O ponto é um nada

Sem ninguém

O ponto só queria ser um rio sem margem

E poder se espalhar por longas planícies

E inundar outros pontos de sua tinta

O ponto queria ter leito,

O ponto queria ser leite,

Ser cheio por dentro

Bem feito para o ponto

Que queria demais

O ponto só queria que a ponta do lápis tocasse mais uma vez o ponto

O ponto só queria ser uma linha

Mesmo que finda, uma linha

Nos seus maiores devaneios alexandrinos, queria ser uma reta

E nos mais contidos sonhos, queria ser mesmo um ponto, mas rodeado de pontos

Mas ninguém quer ser o ponto solitário

Ninguém quer levar o mal do não-amor

O ponto é a dor

A pontada no peito

O ponto é só.

O ponto é o nó na metade do corpo

São as tripas rodando

As entranhas pungindo

São os olhos fechando.

O ponto é o ponto, e

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Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 20/01/2009
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