HORAS MORTAS
Ah - que amplidão vazia!
Nada vivendo existe;
Tudo estático e triste
Sequer uma ave pia.
A nuvem cinza franjada
Que ora no horizonte dorme
Desbota todo o uniforme
Que veste a aura dourada.
Não há pisares de saltos
Nem gargalhadas agudas
Só há paredes mudas
E a fosca tez do asfalto.
Algumas folhas outonais
Pelo chão, adormecidas,
A faixa ocre estendida
Na avenida e nada mais...
A morte paira escondida
Matando a vastidão vaga,
Da paineira que se alarga
A sombra pára esquecida.
O vento assovia mudo
Até o farfalhar se cala
Nas notas briosas da escala
O canto aninha-se mudo.
Pelas sacadas, nenhum riso...
Nenhuma cortina descerra;
Parece até que na Terra
Viver não é mais preciso.
De tudo a vida partiu
Sequer uma alma há vagando
Nem o meu ego negando
Que sou eu este vazio.