Lamento

1990

sinto frio de mim

névoas esmigalhadas

em partículas

fumegantes

sondam-me em

arrepios de lucidez

o quê sou eu?

aquela que esmola o que não sabe

e dôa o que não pode.

(evanescendo)

quanto de mim

hei de suportar

se de uma artéria

sangra vísceras

de desejos

despossuídos?

a paixão me é nunca

sorve-me

fluidos

do que fui sempre.

a poesia é eternidade

sem valor

(de troca)

ou lastro de afectos

depósito de porvires

sob palavras in-sanas.

ao relento

a ilusão de um olhar

isso é amor

delírio

amarfanhados de nós

refeitos em cada acto

taquicardias de gozo

efêmero.

( a vida é a ficcção de um real abandonado)

Ana Paula Perissé
Enviado por Ana Paula Perissé em 12/01/2009
Reeditado em 20/04/2009
Código do texto: T1381654
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