fundo de quarto
Silêncio de fundo de quarto
Os ventos batem nas paredes
E morrem
A porta range alguma presença
Passos descompassados ecoam no corredor
Lá fora
Os cães uivam todos em coro uníssono.
Os gatos se arrepiam.
É a morte passando por todos
Passando pela porta do quarto
Passando pelo tempo e pelo espaço
Com sua foice afiada
Com seu rosto encoberto
Pode ser belo
Pode ser pavoroso
Mas será definitivo.
Os que vão morrer lhe saúdam !
Uivando, blasfemando e ganindo.
Em torno da sobrevivência possível.
Os passos subitamente param
As vozes desconhecem os fonemas da razão
E na loucura surda o momento
arquiteta um labirinto doméstico
a sorver dores, mágoas e rejeições,
a sorver impropérios, xingamentos e culpas
Tudo isso está impresso no silêncio
de fundo de quarto
As portas fechadas que conhecem a tranca
Ferrolho e prisão
E no catre as preces parecem ungir
com precisão
as dores presentes.
Parecem rezar missa pelos ausentes
Parecem eternizar a fé
num momento fugidio
Silêncio ...
Há mais poesia nele
que em todos livros do mundo.
É a palavra por seu avesso.