fundo de quarto

Silêncio de fundo de quarto

Os ventos batem nas paredes

E morrem

A porta range alguma presença

Passos descompassados ecoam no corredor

Lá fora

Os cães uivam todos em coro uníssono.

Os gatos se arrepiam.

É a morte passando por todos

Passando pela porta do quarto

Passando pelo tempo e pelo espaço

Com sua foice afiada

Com seu rosto encoberto

Pode ser belo

Pode ser pavoroso

Mas será definitivo.

Os que vão morrer lhe saúdam !

Uivando, blasfemando e ganindo.

Em torno da sobrevivência possível.

Os passos subitamente param

As vozes desconhecem os fonemas da razão

E na loucura surda o momento

arquiteta um labirinto doméstico

a sorver dores, mágoas e rejeições,

a sorver impropérios, xingamentos e culpas

Tudo isso está impresso no silêncio

de fundo de quarto

As portas fechadas que conhecem a tranca

Ferrolho e prisão

E no catre as preces parecem ungir

com precisão

as dores presentes.

Parecem rezar missa pelos ausentes

Parecem eternizar a fé

num momento fugidio

Silêncio ...

Há mais poesia nele

que em todos livros do mundo.

É a palavra por seu avesso.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 22/12/2008
Código do texto: T1348262
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.