demasiado
Foram cores demais
Foram riscos e
esboços demais
No colorido intrincado de sua maquiagem
Sua boca sangra
Seu olhos me recordam o céu perdido
da infância
A tua expressão vítrea
cristalina e branda
traz no bojo da alma
as nervuras do cotidiano,
As dúvidas paradoxais
Entre viver e morrer
A espada cruel a sentenciar os vencidos
O fogo da inquisição a queimar os ímpios
A guilhotina implacável a decepar cabeças,
Coroas, batinas e cortesãs
Versos bordados em sangue nas camisas dos
guerreiros
Foram cores demais que vi.
Foram acordes demais que ouvi...
E hoje as reticências são sinfonias inacabadas
São sugestões imaginadas
Que a palavra não ousa dizer
Que o gesto não ousa admitir
Que o corpo não admite ceder
Quem me dera ter medo do escuro.
Ser criança de novo e percorrer
aquele corredor frio e imenso
E ter mão prestes a tatear o possível...
Tudo hoje é tão impossível
Meus pensamento fenecem como os orvalhos da manhã
Meus sonhos apodreceram a espera do amanhã
Meu amor seguiu um rumo inesperado
E entrou no retorno das ilusões.
Foram cores demais.
Foram vidas demais
A encharcar lenços,
lençóis ,
roupas e panos.
A impregnar de minha presença
em tudo,
nos móveis,
nos quadros,
nos versos e
no avesso do
silêncio poético.
Foi demasiado
Esvaziou-me de emoções
E agora, só me restam as mágoas.