A PRAIA DO DIABO
Ah! A praia do diabo...
Eis que Deus criou a praia
E o Diabo muito esperto
Em posseiro se arvorou
Fez sua eterna morada
E como quem não quer nada
Nas pedras se espreguiçou...
É tão linda e perigosa
Diabólica, bucólica...
Muito cuidado com ela
Tão brava e agressiva
Vai tentar te derrubar
Ao violentar as pedras
No vai-e-vem que não pára
Não se enterneça com ela
Ela pode até matar
Ou roubar ou destruir
A paz do teu coração
Diluir tua ilusão
Ela serve a dois senhores
Não quer saber dos amores
Que vão ali fazer ninho
Ela é toda solidão...
Quando o sol nascente a beija
E quando o poente a deixa
No auge de uma ressaca,
Muito louca espumeja
E a onda encobre a pedra
Em êxtase faz amor
Com espumante gemido...
E eu assistindo a tudo
Com ela me identifico
Olhando aquela pedra
Onde a onda se arrebenta
Sem contenção e sem trégua
Grosso modo de viver...
A espuma vira lágrima
Desfaz-se em cristais de sal
Sobre a pedra empedernida
Mas a onda vagabunda
Tanto bate até que invade
Irrompendo de repente
E o que vem à minha mente
É o juízo final!