Meus delírios
Maria Antônia Canavezi Scarpa
Não queria ter aberto fendas
nas rochas que encontrei pelo caminho,
mas urgia que apressasse os meus passos,
os vales me cansavam, apesar de verdes
e as montanhas que escalei, me encontrei letárgica;
precisava seguir em linha reta,
ter uma sombra sobre o meu colo arfante,
muita água para aplacar a minha sede
tanto quanto, a minha vontade de viver
Foram muitos os dias sob o sol escaldante
que enalteciam os meus delírios,
brincavam com os meus sonhos,
fragmentando as minhas breves agonias,
uma saudade avessa , ligeira
há muito vinha cerceando meus anseios,
primando por ser a primeira,
a observar meus desatinos, sabendo que urgia
que eu rasgasse os veios desta natureza forte
Em cada segmento me vi ladeada ,
pela íngreme passagem fria,
deste longo caminho se abrindo em riste,
exigindo de mim todas as forças,
que recuperei plena em suas dimensões,
transformando um fruto sequioso e úmido,
em doces gomos de esperança,
havia no outro lado uma aurora,
influenciando uma sombra à me proteger
Foi sentindo seu cheiro, e ao longo
os ecos dos seus queixumes,
que me excitaram, me envolveram à continuar,
sempre soube que haveriam muitos declives,
e um desfiladeiro onde se alojou a minha essência,
que encontraria ali, um ser envolvente,
uma fera ferida; irascível em me perdoar,
mas mesmo com tantos anseios ,
não dei ao destino, chances de meia-volta