ESPELHO

Às vezes sou noite,

Sem luar, sem estrelas, sem mim.

De repente sou sol de verão,

Quente, ardente.

Mas às vezes, sou nada,

Pura solidão.

De repente me sinto mais...

Sou aconchego, caricias, amor.

Sou pôr-do-sol, Veneza,

Jantar a luz de velas, poemas,

Romeu e Julieta.

Há dias que sou fogueira,

Sou, não. Há uma fogueira dentro de mim

Que arde com a corrupção do mundo,

Deixo rastros negros de palavras de protestos,

Mas logo apago.

De repente sou neve,

Evaporo-me ao sol das caricias.

E às vezes, sou nuvem,

Passo.

Os aviões cortam-me ao meio

Mas logo me recomponho e já sou outra figura.

Mas há dias que sou bicho. Não penso.

Entrego-me com loucura às loucuras da vida.

Sou vulcão, tempestade, prazer.

Delicio-me com os prazeres insanos da vida,

Simplesmente vivo com loucura

A loucura que é viver.

Edite Pires