sem perdão
Desculpe-me pelas flores
Pelas primaveras reticentes
Que escorrem pelos rios de ressentimento
Desculpe-me pelas flores
Seus pistilos, seus polens.
A espalhar a multiplicidade
De cores,
Pela linha infinitesimal do
horizonte.
Desculpe-me pelas flores
De pano
Por estarem mortas
E serem um simulacro
Uma imitação sem alma
Desculpe-me pelas flores
a coroar o enterro das dores
antigas e pintadas em porcelana,
Crivadas nas unhas,
Cravada em letras sulcadas.
Desculpe-me pelas flores
Ganidas e arrancadas de
Uma primavera impossível
Por um verão equivocado
Por um coração alheio
E enfiado num túnel
Sem oxigênio...
Necrosado o crisântemo
Reza secretamente
o seu lilás
Abortando o branco de pureza
dos dias de chuva.
Eu sei: é sem perdão.