sem perdão

Desculpe-me pelas flores

Pelas primaveras reticentes

Que escorrem pelos rios de ressentimento

Desculpe-me pelas flores

Seus pistilos, seus polens.

A espalhar a multiplicidade

De cores,

Pela linha infinitesimal do

horizonte.

Desculpe-me pelas flores

De pano

Por estarem mortas

E serem um simulacro

Uma imitação sem alma

Desculpe-me pelas flores

a coroar o enterro das dores

antigas e pintadas em porcelana,

Crivadas nas unhas,

Cravada em letras sulcadas.

Desculpe-me pelas flores

Ganidas e arrancadas de

Uma primavera impossível

Por um verão equivocado

Por um coração alheio

E enfiado num túnel

Sem oxigênio...

Necrosado o crisântemo

Reza secretamente

o seu lilás

Abortando o branco de pureza

dos dias de chuva.

Eu sei: é sem perdão.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 14/11/2008
Código do texto: T1282286
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