Confronto de Dândis
E quem sou eu para mudar o destino?
O trecho que me cabe é pouco
Um palmo medido para meu alento
E um pequeno trono de sustento
Para não viver á lastimar.
O que me trazes aos olhos é facto
Um pacto medo e dor
E em êxtase e torpor me enfrento
Frente a frente no espelho
Vendo-me assim tão frágil e destoante
Infante sem trono, sem rei, sem lei
Numa terra de pecados e luxúria.
E você, quem és, reflexo de mim mesma?
Com a sentença de um juiz supremo sem causa
Com a vida a trazer a morte á galope
Num tribunal sem juiz
Numa sentença sem réu.
O que fazes de mim oh pérfida?
Porque preparas a insídia sem piedade?
Aqui estou eu a sorrir com lábios molhados
De lágrimas secas que despencam sem pudor
A sorrir sem alegria, sem força, sem sonhos
E viver uma mentira com tantas faces.
E do outro lado está ela, a “corajosa”
A guerreira sem troféus, sem heróides
A atriz sem temores, que enfrenta o mundo
Como um vagabundo sem pressa de viver
Que canta a vida com versos leves
A Doce melodia de quem conhece a felicidade
E a reconhece nos instantes solitários
Uma felicidade tão insana, sem razões.
Uma mulher, um dedo, uma página virada
Um sonho em cada soneto
E um sereno devaneio quase improvável
Um lamento quase inócuo, sem a malícia da realidade
Com a cara no mundo, e o mundo nos olhos
Como a infância a denunciar meus medos
No compasso de uma dança sem canção.
Olhos borrados e lábios rubros
Insinuante decote e um doce balonê
Voz serena e um grito quase desesperador
Uma imagem distorcida do que eu sei
Ou não sei se sou.
Uma mão, uma porta, o Adeus
E, refeita, acordo com ligeira preguiça
E imenso amor para recomeçar.