Dependente de quem? (premiado)

Dependente de quem?

(4º. lugar na AMBEP – set/2008)

Já esqueci em qual dezembro

Recebi meu presente mais caro

Cresci cercado de jóias raras

Todo mês imaginei ser Natal

O moleque engraxate da esquina

Fazia de colchão um velho jornal.

Meu pai passou a vida na Bolsa

Jamais foi me buscar na escola

Quando a porta do carro abria

Descia o motorista de brancas luvas

O moleque despertando no parque

Lavava o rosto com águas turvas.

Minha mãe cuidava da cintura

Quase morando na bela academia

Nas noites de luxuosas festas

A babá me contava breve história

O moleque que recolhia garrafas

Dividia aventuras com sua escória.

Na declaração anual de renda

Era rotulado como dependente

Meu pai catava notas e recibos

Que permitam baixar o imposto

O moleque que não tem CPF

Recebia um beijo no sujo rosto.

Estive vivendo numa boa clínica

Tentando esquecer a doce “cola”

Procurando dentro dos livros

A fórmula real da felicidade

O moleque colado aos seus pais

Viveu com ela, em liberdade.

Por isto coloco este anúncio

Nos jornais, em letras garrafais:

“Elemento rico da pobre sociedade

Que viveu à base de falsa ilusão

Procura o moleque de alma pura

Que possa curar seu coração.”

Haroldo P. Barboza - V. Isabel / RJ

Autor do livro: Brinque e cresça feliz!

Haroldo
Enviado por Haroldo em 24/10/2008
Reeditado em 25/10/2008
Código do texto: T1246651