cacos de poesia
Vou catar a poesia
Em forma de sol
nascente
Esticado em pleno horizonte infinito
Será a poesia infinita?
O calor de seus raios
Acariciam os icebergs
E os desertos
A cor de seus raios
Glorificam todas as formas de vida
Do inseto ao humano
Vou sair e catar lá fora
Toda a poesia dispersa em forma
De vento, de folha e de desvão...
E reunindo todos os seus caquinhos
Montarei o mosaico enigmático
Das frases perdidas
Dos fonemas náufragos
Na saliva diária dos trovadores
Vou catar toda a poesia,
Numa rede fina e transversa
Numa esgueira perversa
Numa ribeira sem abismos...
E, com cola diária da paciência
Vou tolerar as imperfeições de nascença
Os sinais, as rugas e verrugas
Penduradas por um corpo
Por um fio,
Por um triz.
Há uma dispersão imensa lá fora...
E a poesia se frutifica
Como pólen espalhado impunemente
pelos pássaros
Ícaro sonhou até Dédalo
E derretidas suas asas,
sucumbiu diante de sua paixão ao sol...
O sol o hipnotizou...
E assim solarado
Encharcado de pó e poesia
Numa cíclica medonha
Construímos e desconstruímos...