autocomédia
Há um grito sufocado nessa garganta humana
Há uma dor incrustada na alma,
como pepita preciosa em caverna profunda
Há sentimentos perambulando pela sala,
correndo atrás do rabo, em círculos concêntricos
e confusos.
Há mais dor em sentir do que apenas existir.
Nesse corredor o silêncio percorre as portas,
fecha as janelas e
abre o gás sufocante da solidão.
Há paz na solidão rotunda.
Há sombras e chuvas na solidão.
Há o ranger da porta a interromper a expectativa
Mas o que é presença?
é, ao mesmo tempo,
estética e música.
Perversão e licenciosidade .
O que é presença ?
é, ao mesmo tempo, pressentimento
de dores atávicas
geneticamente embutidas no kharma
Sua presença me dá náuseas...
Sua aparência me dá repulsa
o asco, o nojo
e a necessidade de pinças,
de luvas higienicamente limpas
absurdamente intactas
indefectivelmente imunes
de serem contaminadas
pela sujeira,
pelas bactérias,
pelo oxigênio
a oxidar o caminho...
enferrujar dobradiças ocultas.
essa sua respiração,
esse seu ronco me informa da longevidade
que terás..
do sono profundo que não tenho.
das dores secretas abandonadas
no escaninho da
carne.
Há latente em mim, o sentido vetorial e vertical
O abismo é meu tapete
E o infinito é meu teto.
Arremesso o passo impreciso no improvável
E garfo a realidade com os dentes.
A meia de seda apta a enforcar delicadamente
O encharpe dependurado no convés de um navio
náufrago.
Peço um café
Brindo misericordialmente
a miséria circundante
pintada pela comédia intrínseca...
Às vezes rimos
porque não temos coragem
de chorar
Às vezes fazemos piadas porque
sabemos bem o que realmente fazer
para mudar...
alterar o curso da estória...
É a perplexidade a força motriz do riso.
Ria de si mesmo.