autocomédia

Há um grito sufocado nessa garganta humana

Há uma dor incrustada na alma,

como pepita preciosa em caverna profunda

Há sentimentos perambulando pela sala,

correndo atrás do rabo, em círculos concêntricos

e confusos.

Há mais dor em sentir do que apenas existir.

Nesse corredor o silêncio percorre as portas,

fecha as janelas e

abre o gás sufocante da solidão.

Há paz na solidão rotunda.

Há sombras e chuvas na solidão.

Há o ranger da porta a interromper a expectativa

Mas o que é presença?

é, ao mesmo tempo,

estética e música.

Perversão e licenciosidade .

O que é presença ?

é, ao mesmo tempo, pressentimento

de dores atávicas

geneticamente embutidas no kharma

Sua presença me dá náuseas...

Sua aparência me dá repulsa

o asco, o nojo

e a necessidade de pinças,

de luvas higienicamente limpas

absurdamente intactas

indefectivelmente imunes

de serem contaminadas

pela sujeira,

pelas bactérias,

pelo oxigênio

a oxidar o caminho...

enferrujar dobradiças ocultas.

essa sua respiração,

esse seu ronco me informa da longevidade

que terás..

do sono profundo que não tenho.

das dores secretas abandonadas

no escaninho da

carne.

Há latente em mim, o sentido vetorial e vertical

O abismo é meu tapete

E o infinito é meu teto.

Arremesso o passo impreciso no improvável

E garfo a realidade com os dentes.

A meia de seda apta a enforcar delicadamente

O encharpe dependurado no convés de um navio

náufrago.

Peço um café

Brindo misericordialmente

a miséria circundante

pintada pela comédia intrínseca...

Às vezes rimos

porque não temos coragem

de chorar

Às vezes fazemos piadas porque

sabemos bem o que realmente fazer

para mudar...

alterar o curso da estória...

É a perplexidade a força motriz do riso.

Ria de si mesmo.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 02/10/2008
Código do texto: T1207885
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