Marinheiro solitário
a um amigo
No mar, onde agora negra faz-se a noite,
Um barco corta as águas, veloz a navegar.
Na proa um vulto, negro como a noite, está
Sozinho. É um marinheiro a meditar.
Seus olhos tristes fixados no mar estão.
Contempla calado esse deserto sem fim;
Sente a tempestade se formando em seu peito
E fala, para que ele mesmo escute, assim:
“- Que destino é este que me foi reservado,
Seguindo os rumos que os bons ventos me levam.
Nessa liberdade eu vivo escravizado.
Se amanhã vai mudar, só os sonhos revelam.
“Ah! Quando criança eu sempre sonhava
Ser forte e bravo senhor dos oceanos.
Cavalgar meu navio, vencer a onda brava.
Só que a solidão não estava nos meus planos...
“Minha família, onde estará a essa hora?
Só me resta essa saudade no meu peito
Que me destrói, pouco a pouco me devora.
Eu quero voltar pra casa, mas não há jeito!
“Minha amada, que deixei no porto, chorando;
Onde estará, além de na minha oração?
Só parte de mim está aqui, viajando.
Pois naquele porto ficou meu coração.
“Vale o sacrifício pra ficar junto ao mar?
A beleza oceânica paga o esforço?
Por quanto tempo mais eu vou agüentar?
Será que agüento? Ah, meu Deus, como eu torço...
“Quis ser feliz, mas me ocorreu o contrário
Quem me vê percebe meu olhar tristonho.
Lobo do mar, um marinheiro solitário.
Injusto é o preço que paguei pelo meu sonho...”
Caem, então, duas lágrimas no mar que logo se misturam às suas salgadas águas, para nunca mais se separarem dele.