NUDEZ
Há entre mim e mim mesmo
um espaço intermitente,
transcendente,
que me cala num abismo, inconsistente
sobre o nada.
Há uma solidão conveniente, necessária,
que me faz uma higiene sumária
do que o meu corpo excede e a minha alma ressente,
incandescente,
à luz difusa na imagem espelhada,
na noite silenciosa e orvalhada.
Há um não-sei-quê vago e disperso
no ar, que se expande no universo
e paira no meu corpo a me abrasar;
vibrante, erétil, num desejo imerso.
Há uma clara lua que se fez
pra refletir-me a máscula nudez,
expondo-me a lira abdominal
na palpitante região dorsal,
que se tateia ao vértice da espádua
onde uma onda de suor deságua.
Há uma amálgama ânsia
em reentrância
a mexer comigo,
a me tremer do lábio à região do umbigo
num frêmito de espasmo lancinante,
lívido e lascivo no peito pulsante.
E ao ver-me assim frente ao espelho
persigno-me, quase de joelho,
num ritual erótico: mais ou menos
como se Eros contemplasse Vênus.
Translúcida nudez me lembra Ártemis,
irmã de Apolo, que, elevando o pênis,
narcisamente vê-se em deslumbrante
misto: paraíso e inferno de Dante,
a confundir-se com este poeta amante.
Há entre mim e mim mesmo
um espaço intermitente,
transcendente,
que me cala num abismo, inconsistente
sobre o nada.
Há uma solidão conveniente, necessária,
que me faz uma higiene sumária
do que o meu corpo excede e a minha alma ressente,
incandescente,
à luz difusa na imagem espelhada,
na noite silenciosa e orvalhada.
Há um não-sei-quê vago e disperso
no ar, que se expande no universo
e paira no meu corpo a me abrasar;
vibrante, erétil, num desejo imerso.
Há uma clara lua que se fez
pra refletir-me a máscula nudez,
expondo-me a lira abdominal
na palpitante região dorsal,
que se tateia ao vértice da espádua
onde uma onda de suor deságua.
Há uma amálgama ânsia
em reentrância
a mexer comigo,
a me tremer do lábio à região do umbigo
num frêmito de espasmo lancinante,
lívido e lascivo no peito pulsante.
E ao ver-me assim frente ao espelho
persigno-me, quase de joelho,
num ritual erótico: mais ou menos
como se Eros contemplasse Vênus.
Translúcida nudez me lembra Ártemis,
irmã de Apolo, que, elevando o pênis,
narcisamente vê-se em deslumbrante
misto: paraíso e inferno de Dante,
a confundir-se com este poeta amante.