modernidade
Eu tenho alma perfeita
Digitalizada e scaneada.
dentro da sua retina
Esticada pelos fios imaginários
do gesto virtual
de suas palavras prosaicas
A deletar solidão cotidiana
Eu tenho a caligrafia sedutora
das letras sem fonte,
em negrito, itálico e realce
do sublinhar pragmático
de sentimentos indecifráveis
a escorrer pelos teclados
mudos dos computadores
Eu tenho o frenesi internético
Falo com quem não conheço
me assemelho ao intangível
E me identifico com o enigma
dos nicks
há uma fantasia metafórica
a revelar verdades reticentes
há uma primavera contida nas
gentilezas distantes
daqueles que se relacionam
anonimamente num Chat
há alma perfeita nisso tudo
desprendida de corpos,
de substâncias, de cheiros, de tons
a webcam mostra uma fotocélula
eletrônica
que contorna apenas a imagem
mas não a revela fielmente
dá detalhes mas não dá o todo
o todo está envolto de mistério e
modernidade