REVERSO

Sabe aquela hora

que o olhar espora a alma

em nossos reencontros?

E o suor de nossas mãos não suporta

o silêncio que ressoa a nossa volta

como se fôssemos dois estranhos.

Sabe aquela hora

que não há palavras que justifiquem

as nossas escolhas?

E em nossa condição de presença,

o que nos resta é a firmeza de nossos gestos,

deslizes de tocar em seda.

Sabe aquela hora que o medo inquieta o corpo

e nos julga pelos outros a nossa maneira?

E que o recato nos emancipa

e a vontade supera a perda.

E nossa aparência de ilustração de livro

quebra os vincos de nossa orelha.

A dor que mais sinto é de te ver indo,

sozinho, a lugar algum.

Deixando-me ir apenas,

o olhar,

cansado e frio.

Sabe aquela hora

que tudo se resume nisso.

Nosso olhar de nós fugindo.

Ka Risse
Enviado por Ka Risse em 03/09/2008
Código do texto: T1159356
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