REVERSO
Sabe aquela hora
que o olhar espora a alma
em nossos reencontros?
E o suor de nossas mãos não suporta
o silêncio que ressoa a nossa volta
como se fôssemos dois estranhos.
Sabe aquela hora
que não há palavras que justifiquem
as nossas escolhas?
E em nossa condição de presença,
o que nos resta é a firmeza de nossos gestos,
deslizes de tocar em seda.
Sabe aquela hora que o medo inquieta o corpo
e nos julga pelos outros a nossa maneira?
E que o recato nos emancipa
e a vontade supera a perda.
E nossa aparência de ilustração de livro
quebra os vincos de nossa orelha.
A dor que mais sinto é de te ver indo,
sozinho, a lugar algum.
Deixando-me ir apenas,
o olhar,
cansado e frio.
Sabe aquela hora
que tudo se resume nisso.
Nosso olhar de nós fugindo.