Dias de Solidão
Era o terceiro ciclo de toda a espera,
quando chegou aos meus ouvidos,
partindo dos montes,
das colinas e das fontes,
das ruas desertas,
em gritos, em polvorosa,
qual chilrear de pássaros,
o anúncio do novo dia...
Não era para ser uma manhã, dos conflitos
deixados na noite das fadas,
que surgiram com as lendas cantadas,
à beira dos rios, e em meio às várzeas e banhados...
Enquanto caminhava pelas calçadas nuas,
contemplava as portas das casas adormecidas.
E o silêncio em torno de mim
vagava com minha indecisão...
Frio, muito frio soprava o vento
neste fim de inverno bolorento!
Densa neblina escondia
folhas, galhos e árvores no meio do nada...
E a caminhar prosseguia,
enquanto o gelo da alma
marcava com ares de nostalgia,
o coração e o pensamento.
Sigo, vou andando...
Muitas vezes sem querer
ir para lugar algum.
Sou cria do tempo,
testemunha do vento e das tempestades.
Não me tocam as flores nem os odores
que, em todas as primaveras,
não me enxugaram as lágrimas.
Diviso curvas na estrada do invisível.
Giro meus passos me afastando da escuridão.
Tomo-me pela transparência de rostos perdidos,
na lembrança de tempos memoráveis.
Sou fugitivo da minha própria alma,
mestre e aprendiz de imortal paixão.
Afasto cada vez mais da cruz dos tempos
e me afogo na chuva da minha solidão...
Vinhedo, 1 de setembro de 2008.