O Miserável entre os Miseráveis
O miserável entre os miseráveis
Caminha por sobre a esteira em pedras de rubor
Que ardem em Celsius-mor e o queimam sem ardor
O miserável entre os miseráveis
Não reclama ao carvoeiro da dor
Pragueja contra a brasa a sua falta de calor
O miserável entre os miseráveis
Procura no caminho de sua busca o seu cobertor
E não pára de caminhar mesmo queimando sem aquecedor
Mas demos um basta na harmonia da rima
Pois o miserável entre os miseráveis
Não mais sabe se equilibrar pela simétrica calçada
É atraído como cão a farejar faminto
À trilha de cinzas mortas-vivas
Que atravessa a recém-descoberta floresta densa
Por isso é miserável o miserável
Não sabe se acostumar ao pavimento
Só consegue pisar com dor a vereda que o finge confortar
Que ele pensa o levar a um certo ponto
Lugar por ele pensado e descartado
E por isso mesmo com verve escolhido
Espalhando o pó lúgubre ele pisa dando voltas
Traçando ângulos vãos a cada passo doído
Ao miserável entre os miseráveis
Não cabe desviar o trajeto
Outro caminho não lhe daria paz ou alegria
E se não pode ser ordinariamente feliz
Lhe resta então ser o destaque:
O miserável entre os miseráveis