olhos errantes

olhos são enganados por curvas

olhos são tapeados por ilusões

luz excessiva cega.

pouca luz também cega.

os sentidos são facilmente enganados.

o erro eremita se isola em cada coisa

porque nem tudo o que coisa aparenta

é realmente sincero.

as vezes,

o conteúdo de um gesto,

o conteúdo de uma palavra,

os fonemas entonados durante emoção

os gritos discretos de dores eternas

e dos temas que atormentam vidas,

histórias e estórias inteiras.

estóica e parada permanece a imagem

de mim mesmo

perante o espelho imaginário

perante o espelho inconsciente

essa dormência,

essa letargia,

esses olhos que se prostram

em pequenos arrebites

esgarçados por perderem a função.

não quero ter olhos hoje,

não quero sons de palavras ou da música.

quero o silêncio compacto

sem ruído, gemido ou vento.

quero sorver esse vácuo

esse sentimento vazio

de ter partido e deixado a porta aberta.

de ter deixado as lágrimas secarem no deserto

de ter abertos os pulsos e sangrar poeticamente.

de ter se arremessado nos abismos possíveis,

de ter vivido as primaveras sem flores,

de ter sobrevivido ao seu gélido olhar

a se pendurar durante horas a fio,

diante nada,

diante da desesperança.

hoje quero esse copo ausente

pois o álcool evaporou das veias

e só restou essa lembrança singela

só restou a possibilidade do poema.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 13/08/2008
Código do texto: T1125915
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