olhos errantes
olhos são enganados por curvas
olhos são tapeados por ilusões
luz excessiva cega.
pouca luz também cega.
os sentidos são facilmente enganados.
o erro eremita se isola em cada coisa
porque nem tudo o que coisa aparenta
é realmente sincero.
as vezes,
o conteúdo de um gesto,
o conteúdo de uma palavra,
os fonemas entonados durante emoção
os gritos discretos de dores eternas
e dos temas que atormentam vidas,
histórias e estórias inteiras.
estóica e parada permanece a imagem
de mim mesmo
perante o espelho imaginário
perante o espelho inconsciente
essa dormência,
essa letargia,
esses olhos que se prostram
em pequenos arrebites
esgarçados por perderem a função.
não quero ter olhos hoje,
não quero sons de palavras ou da música.
quero o silêncio compacto
sem ruído, gemido ou vento.
quero sorver esse vácuo
esse sentimento vazio
de ter partido e deixado a porta aberta.
de ter deixado as lágrimas secarem no deserto
de ter abertos os pulsos e sangrar poeticamente.
de ter se arremessado nos abismos possíveis,
de ter vivido as primaveras sem flores,
de ter sobrevivido ao seu gélido olhar
a se pendurar durante horas a fio,
diante nada,
diante da desesperança.
hoje quero esse copo ausente
pois o álcool evaporou das veias
e só restou essa lembrança singela
só restou a possibilidade do poema.