espera

Crueldades explícitas

Enormes inexplicáveis vazios

Silêncio que é corruptela da palavra

espera

Interminável espera.

Espera-se para nascer

Espera-se para morrer

Espera-se infeliz pela felicidade

Espera-se e, se envelhece

a cada dia

O infinito se encurta

As semânticas ácidas dos desesperançados

Alcançam os velhos

que aguardam serem abrigados por suas tumbas

Religiosidade passiva

Adoração e hemoptise.

Úlceras sangram silenciosas

Lacerando fomes esquecidas

A luva envolve a mão e o gesto

A lágrima envolve a dor e o rosto

A fisionomia envolve o tempo e a estética

Em delicadas dobraduras

Superpostas

Expostas

Num ensaio prenuncial da morte.

A reflexão da pele e de olhos turvos.

Crueldades explícitas

Calo indecentemente e boquiaberta

Calo-me

Aos poucos a vida vai limando da alma

a indignação,

o inconformismo

o dinamismo patológico

De quem não aceita.

Não aceita, mas vivencia tanto

quanto ao pôr-do-sol.

Morre a humanidade a cada dia,

Num extermínio exótico, ritualístico

com a conivência plácida dos omissos,

com a cegueira dos distraídos

com a conveniência dos políticos.

Eu aqui a espera da espera

aguardando a arte de guardar

o intangível.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 10/08/2008
Código do texto: T1121685
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