breve momento
Essa nesga de luz
Essa palavra sibilada em seus lábios
Esse silêncio breve e interstício
E no olhar a sombra do cair da tarde
Esse nefando mal-estar
de estar por estar
para matar o tempo ou
suicidar a alma.
A delicadeza da seda
suspirando ao tato
sensações secretas
o quente veludo
que não aquece.
E nem se esquece do
Frio mordaz a corroer ossos
A queimar faces
que rubram-se
de despudor.
Esse momento
que não é instante.
É uma eternidade contida
aprisionada em fonemas,
em pausas semitonadas
por uma voz contralto.
Esse coral da consciência
a vociferar delicadamente
por entre frestas cranianas
a provocar dor,
latência
e intermitência
entre ser e estar ausente.
Esse abajur a provocar
nostalgia e a escorrer pelas paredes
saudades e suspiros,
há esperanças no copo d’água,
há plural em singular figura
inesculpível
no gesso ou na carne.
Esse esgar de olhos esbugalhados
Atônitos por ver sem enxergar
Atônitos por ver aquilo que não é crível.
Essa nesga de luz a iluminar pouco
o que aparece
mas não transparece.
a translúcida solidão.