Ardor

Temos símbolos afins

bocas que foram pressagio

de um nulo resplendor

e sapatilhas de baile

como aquelas dos contos

temos a mão debaixo do tapete

noites alheias

sonhando outros corpos

Nunca o teu

e a nosso lado ofegantes

jardins que cansaram

de aguardar a relva

tememos a Deus figura de bairro

e ao alva um perfume de mulher

que evapora todo um lago

nos acorda a meio realizar

como o desejo de uma tarde

na que nunca fomos livres

e lençóis abertos

que pouco souberam de receber

sua misera porção de eflúvios néscios

agora que estamos em guerra

contra todo um povo eterno

que deitou o coração

por que os cadáveres só expõem o peito

temos (e tememos)

ganas de chorar

e ruas abaixo um grande cemitério