NOS BRAÇOS DA CRISE

Estou fazendo um brinde à minha loucura, acariciando-me com tapas;

Porque avisto capas em cada nudez proclamada e vejo doença onde anunciam saúde;

Não sou lorde e nem rude, sou uma rede presa a paredes sem escapas;

Invólucros que aprisionam larvas, posto que voar de fato nunca pude!

Estou tentando corar a pele nesse luar de inverno;

Jogando água nesse inferno, investindo no grande pesadelo que é sonhar;

A chorar nesse sorriso amarelo, a me rejuvenescer nesse semblante velho;

Andando sem chinelos nas pontas afiadas do desassossego a me atormentar!

Trago às narinas o perfume esperançoso de minhas flores mortas;

E olhando pelas costas vou apreciando o futuro sem passado de meus dias atuais;

Diferenciando meus opostos iguais, engessando minhas fraturas expostas;

Perdendo em todas as minhas apostas, de tornar minhas abstrações menos reais!

As sete lâminas que tenho na língua andam presas às bainhas de minha pena;

E a cada cena desse teatro, uma nova verdade pede a mentira em casamento;

Funerais solenes em cada nascimento, atabaques do Congo a beijar os violinos de Viena;

A quem interessar uma tempestade amena, venham me ver nesse momento!

Mas lhes previno que me verão oposto ao que se dá nos meus reflexos;

Porque sou coerência sem nexos, alguém que por descuido nesse mundo despencou;

Esse mesmo mundo que vai enquanto vou, não me admite em seu conteúdo ou anexos;

E os meus espirais convexos ainda vagam à procura da lógica que a vida rejeitou!

Tão flagelado por esse isolamento coletivo, assim me sinto;

Quisera ser governado por meu instinto e não pela desumanidade das convenções;

Visto pelas multidões, sou nadador solitário nessa corrente de absinto;

Meu todo não chega a ser um quinto de minhas subtraídas multiplicações!!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 04/07/2008
Reeditado em 09/10/2009
Código do texto: T1064517
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