NOS BRAÇOS DA CRISE
Estou fazendo um brinde à minha loucura, acariciando-me com tapas;
Porque avisto capas em cada nudez proclamada e vejo doença onde anunciam saúde;
Não sou lorde e nem rude, sou uma rede presa a paredes sem escapas;
Invólucros que aprisionam larvas, posto que voar de fato nunca pude!
Estou tentando corar a pele nesse luar de inverno;
Jogando água nesse inferno, investindo no grande pesadelo que é sonhar;
A chorar nesse sorriso amarelo, a me rejuvenescer nesse semblante velho;
Andando sem chinelos nas pontas afiadas do desassossego a me atormentar!
Trago às narinas o perfume esperançoso de minhas flores mortas;
E olhando pelas costas vou apreciando o futuro sem passado de meus dias atuais;
Diferenciando meus opostos iguais, engessando minhas fraturas expostas;
Perdendo em todas as minhas apostas, de tornar minhas abstrações menos reais!
As sete lâminas que tenho na língua andam presas às bainhas de minha pena;
E a cada cena desse teatro, uma nova verdade pede a mentira em casamento;
Funerais solenes em cada nascimento, atabaques do Congo a beijar os violinos de Viena;
A quem interessar uma tempestade amena, venham me ver nesse momento!
Mas lhes previno que me verão oposto ao que se dá nos meus reflexos;
Porque sou coerência sem nexos, alguém que por descuido nesse mundo despencou;
Esse mesmo mundo que vai enquanto vou, não me admite em seu conteúdo ou anexos;
E os meus espirais convexos ainda vagam à procura da lógica que a vida rejeitou!
Tão flagelado por esse isolamento coletivo, assim me sinto;
Quisera ser governado por meu instinto e não pela desumanidade das convenções;
Visto pelas multidões, sou nadador solitário nessa corrente de absinto;
Meu todo não chega a ser um quinto de minhas subtraídas multiplicações!!