Incêndio subterrâneo
Há um incêndio debaixo das águas mornas
de suas lágrimas
Elas não apagam as chamas
Que queimam idéias
Que queimam projetos em tubos fechados
Que remoem mágoas
Há um incêndio a crepitar minha alma velha
A reduzir em cinzas
Velhas esperanças
Velhas perspectivas
Velhas analogias antológicas
Que dormiram em prateleiras
repletas de ácaros.
Há ruínas dos sonhos antigos
Não cumpridos
E esquecidos durante o choro
Acalentado por travesseiros
Há mãos santas que esculpem
Santos-humanos
Há professores que esculpem
Sábios em corpos humanos
Criam almas à procura de esperanças
Aonde só havia perplexidade
Angústia e existência
Há os que transformam a mera existência
Na mais absoluta e cristalina
essência
Que a tudo impregna de alma,
Que a tudo humaniza e toca.
Com a magia de compartilhar,
de multiplicar,
de ser muitos e ao mesmo
Tempo um só...
Há um incêndio por debaixo de
Seu suor salgado
De seu cansaço criptografado
Nas pálpebras
Há, sobretudo, ebulição.
Fervem-lhe as veias,
as pernas, as mãos.
O frisson de estar vivo,
Estar sobrevivendo à
incógnita do futuro.