caolho
esse olhar
atravessa almas,
rompe grilhões,
arrebenta e alucina.
esse olhar certeiro
olhar-flecha
apontado para mil
alvos
pintados ou não
a penetrante presença
a se instaurar estranhamente
por entre entranhas,
por entre cheiros íntimos,
por entre frestas incertas
e, segredos que o tempo esculpe
nas pedras.
sorvo com o vento
sua partida
sorvo delicadamente
toda a viagem,
como um pirata bebendo rum
em seu navio
vendo o mundo de tapa-olho
vendado parcialmente perante a imensidão
do mar,
e só tendo um único olho,
um único olhar.
talvez assim,
acabem-se as dúvidas,
as insanidades da ilusão
de ver o duplo e único segmento,
de ver o dúbio e ínfimo momento
de ver o duplo,
de se sentir duplo
e dúbio
e, cego
e um tanto tátil
da dor lascinante
de perder um olho
resta o dom da sobevivência
à espreita de corpos quentes,
aquecer o tempo vadio de envelhecer
e ficar só.
da dor lascinante
de furar o olho,
há a complacência generosa
de ter matado todas as imagens ruins,
cruéis e feias do mundo,
de ter sepultado os horrores vistos,
registrados no flash da retina.
inapagáveis.
caolho segue o gato sua sorte
de mil vidas,
caminha com leveza e esperteza
com a malemolência infinita de
se chegar exatamente
aonde o instinto quer.
perderá esse olhar concentrado
todo o poder,
de sedução e mira?
Impossível.
Impossível perder aquilo
que está dentro da
visão,e
está antes da visão,
bem antes,
da existência ou da hesitação.
é impossível perder
o atávico.
maktub.