caolho

esse olhar

atravessa almas,

rompe grilhões,

arrebenta e alucina.

esse olhar certeiro

olhar-flecha

apontado para mil

alvos

pintados ou não

a penetrante presença

a se instaurar estranhamente

por entre entranhas,

por entre cheiros íntimos,

por entre frestas incertas

e, segredos que o tempo esculpe

nas pedras.

sorvo com o vento

sua partida

sorvo delicadamente

toda a viagem,

como um pirata bebendo rum

em seu navio

vendo o mundo de tapa-olho

vendado parcialmente perante a imensidão

do mar,

e só tendo um único olho,

um único olhar.

talvez assim,

acabem-se as dúvidas,

as insanidades da ilusão

de ver o duplo e único segmento,

de ver o dúbio e ínfimo momento

de ver o duplo,

de se sentir duplo

e dúbio

e, cego

e um tanto tátil

da dor lascinante

de perder um olho

resta o dom da sobevivência

à espreita de corpos quentes,

aquecer o tempo vadio de envelhecer

e ficar só.

da dor lascinante

de furar o olho,

há a complacência generosa

de ter matado todas as imagens ruins,

cruéis e feias do mundo,

de ter sepultado os horrores vistos,

registrados no flash da retina.

inapagáveis.

caolho segue o gato sua sorte

de mil vidas,

caminha com leveza e esperteza

com a malemolência infinita de

se chegar exatamente

aonde o instinto quer.

perderá esse olhar concentrado

todo o poder,

de sedução e mira?

Impossível.

Impossível perder aquilo

que está dentro da

visão,e

está antes da visão,

bem antes,

da existência ou da hesitação.

é impossível perder

o atávico.

maktub.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 23/06/2008
Código do texto: T1047388
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.